20 outubro 2010

O lugar da História da Filosofia

(ou: Do falso dilema entre aprender filosofia e aprender a filosofar)

Frequentemente percebemos em materiais didáticos de filosofia um uso muito distorcido da citação de Kant, segundo a qual

(...)não é possível aprender qualquer filosofia; [...] só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão, fazendo-a seguir os seus princípios universais em certas tentativas filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou rejeitando-os.” (KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1980. P. 407.)
Essa intuição kantiana dá margem a alguns problemas e sua avaliação superficial por parte dos pedagogos e professores de filosofia é responsável pela imensa disparidade existente entre currículos do Ensino Médio de escolas diferentes. Em termos práticos significa que uns professores preferem tratar apenas temas filosóficos  (identificando o estudo de temas com o "aprender a filosofar") outros entendem que o ensino de filosofia passa pelo produto de todos esses anos de pensamento filosófico ocidental, reunindo os principais filósofos e suas ideias em períodos cronológicos e lecionando esses blocos.  Obviamente os adeptos dos temas julgam que essa segunda maneira corresponde ao "aprender filosofia" e levaria o aluno a somente reproduzir ideias. Para nós, isso soa como um falso dilema.

17 outubro 2010

O uso político da religião nas eleições 2010

É lamentável que o futuro político do Brasil seja discutido nas bases de questões do foro íntimo cuja discussão, embora necessária, não parece relevante para definir o melhor projeto governamental em disputa. Religião é assunto sério, diz respeito a crenças fundamentais e que dão sentido à vida de muitas pessoas. Por essa mesma razão considero desrespeito aos brasileiros panfletar assuntos religiosos para adquirir vantagens eleitorais. Qualquer candidato que faça isso age maquiavelicamente sob o lema de que os fins justificam os meios. 

O meio, no caso é a religião, utilizada como arsenal contra uns, como trampolim para outros. Meu temor é que as pessoas religiosas não percebam que estão sendo instrumentalizadas e tratadas como incapazes de pensar por si mesmas no que tange às decisões políticas. 

06 outubro 2010

Ética e Moral: qual a diferença?

Infelizmente, a etimologia não ajuda a diferenciar "ética" de "moral". Simplesmente a palavra grega ethos significa morada ou costume. A palavra latina equivalente é mos, moris, que também significa morada, costume. Qualquer diferenciação entre ética e moral veio, portanto, do uso dessas palavras.

No âmbito filosófico, existe o costume (ethos) de definir bem os conceitos para melhor compreensão. Comicamente, esse costume também se aplica a esses termos relativos ao costume: moral significa um conjunto de normas e valores aceitos por um indivíduo ou grupo como corretos (ou seja, os deveres que nos impomos por considerá-los o certo a ser feito).  Ética  seria o estudo filosófico da moral, a busca pela fundamentação da moral, definir os critérios para decidir entre o certo e o errado. Difícil entender? Talvez alguns exemplos nos ajudem...